sexta-feira, 21 de novembro de 2008

cerejas.

há sede de vermelhos
e de pedaços de ornamento.

escorrega o suor em mim.

os cabelos que roçam o fruto
expelem o rubro sangue:
o sumo que escorre pelos lábios,
a líbido que se contrai,

mas já não há cerejas
e reprime-se a deflagração daquilo que desejas
já não é Verão
[não!]
já não tenho brincos
o vago adorno. superficial.
já não uso cor.

quarta-feira, 12 de março de 2008

«Ladies and gentleman

May I have your attention, please?
Are your nostrils aquiver and tingling as well as that delicate, lushious, ambrosial smell?
Yes, they are, I can tell
Well, ladies and gentlemen
that aroma enriching the breeze,
is like nothing compared to its succulent source
as the gourmets among you will tell you, of course.
Ladies and gentlemen you can't imagine the rapture in store,
just inside of this door!»


Dama do Sinal S. apresenta o novo sofá da Dama do Sinal C.!

:

UNE BIZARRE LOVE TRIANGLE





[desenho de: Dama do Sinal C.]
[minha banda sonora: Being for the Benefit of Mr. Kite]

dama do sinal s.

quarta-feira, 5 de março de 2008

blood sample.

Enervam-se as forças na permanência aflita.
Julgava ser azul, o sangue real que
de um forçado sopro da tua garganta
espirra o vermelho no meu vestido branco.
Enquanto as navalhas nos bolsos de gente esquisita
são amostra[s] de alguém que vestiu outrora este vestido
imaculado.
Agora desflorado
[pelas gotas de suor ascéticas].
Dou o meu corpo, agora,
mordido pela carne dos meus lábios.
Cada impressão dos dedos
trincada pela força dos meus dentes.
Cada madeixa de cabelo..
O berro afoga-se no abafar da almofada
[em cada tecido da pele]
sufocado pelo encarnado em que te enleias.
Já não vês o amanhã.
Viverá[s] para contar?
Já não vejo o amanhã:
A nossa história numa amostra
do que já não é.
Sangue.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

não-história

Os remorsos da guerra permanecem inertes dentro deste [meu] corpo. O que fui capaz de dizer, o que fiz esconde-se agora numa falsa normalidade. Os despojos da guerra ainda rasgam a carne, como as balas dos dias escuros. Resta o silêncio. Meu, dos outros. Ninguém fala do que disse, do que fez. A mim, doem-me ainda as cicatrizes quando troveja.
Volto a concentrar-me naqueles corpos, devolvendo-me a este prazer perverso de observar um acto de perpétuo amor. O hedonismo que me corrói requer mais um sorriso no canto dos lábios enquanto espio os “highschool lovers”, que jazem no chão de alcatrão, envolvidos naquela posição tão atroz para o senso comum. Alimento-me assim. Do que os olhos vêem. Como se consumisse cada sopro deles, já que os meus se esgotaram. Até o respirar custa. Até o respirar. Consumo-me, consumindo-os. Fumo a cidade e o que de mais podre há nela. Ao longe, ainda as sobras da destruição. Vive lá gente, dizem. Entre as pedras, entre os bocados de carne dispersa, já cinza. Ninguém se deu ao trabalho de as limpar. Deixam os mártires apodrecer para poderem culpar alguém. E recomeçar noutro lugar. Olho os jovens mais uma vez. Está frio. Aperto o casaco. E olho.
Que inércia (!) que me impede de perseguir o sinal dos sentidos. Sorvo o último testemunho longínquo dos de além. Está ainda mais frio. Não me consigo mover. Maldita apatia que me perverte (menos o olhar). Releio, agora na mente, as palavras dela, escritas num bilhete de comboio deixado para trás; o comboio partiu, com ela: «Tudo cansa. Cansa. Já não se suporta. É o querer morrer. É o querer matar. Um buraco. Querer um buraco. Um buraco negro. E morrer, morrer. Desta vez, já nem sequer é temporário. É morrer para sempre. Para sempre. “The End”. Sem sequelas. Nada, mais nada. Nem 6 meses. Nem nada. É um buraco negro. E morrer, para sempre. Sem respostas. Nada. Sem as perguntas. Morrer, para sempre. Não há reconciliação. Não há. Só há nada, vazio, buraco, oco. Dor. Ponto. Dor, e não se fala mais nisso. Dor nessa solidão, que se foi apoderando, resultado de um muito próprio afastamento. Culpa minha, já sei. E a noite nunca mais finda. Dor nisso tudo. E mea culpa. Meu tudo. Meu nada. As coisas já não se partilham. Mea culpa. Só. Impartilhável. Impartilháveis. Minha culpa, já sei. Podem-se calar, agora. Já sei. O buraco cavei-o eu. Mas nem nele consigo entrar. Que inutilidade, esta! Que falta de jeito para tudo. Que falta de jeito para viver. Que falta de jeito para morrer. Nem sequer morrer sei. É só desejar. Só desejar. Que só de tanto desejar ainda faz desejar mais. Merda. Merda para tudo! Merda. Não há mais palavras.»
Foi-se! Partiste e eu nem sequer tempo tive para te dizer que enquanto houver poesia, há palavras e enquanto existirem palavras, existe a voz… a tua voz perpétua. E existe a minha (ou o meu esforço para falar). Ao cambalear no tempo, tento recuperar aquela noite na estação onde a carruagem te levou e tu deixaste o velho bilhete sob os carris. Queria (ou quero!) arrancar esse momento mas a minha mente coagula outra vez. Outra vez. Vou escrever-te (n)o bilhete que não irás ler: «O desejo de morrer caminha contigo. Pensas-te inútil, sem sabor, e queres dar o passo para o dia da suspensão terrena, dando entrada no eterno dia do qual não sairás. Viverás (ou dir-se-á “morrerás”) sem poder desejar a morte novamente. Ou talvez desejes, mas não se pode morrer duas vezes! Se continuares viva, até podes não viver, mas desejarás deveras.»
Nunca o lerás. Ficaste como cinza nos despojos de guerra. Eu próprio sou quase cinza. E olho, ao fundo, as ruínas que sobraram de ti. Não sei que sentimento me percorre, se raiva e ódio, se vazio. «Finda a viagem. Vai findando. E eu não quero mais sentir. Não mais. Eu não quero mais ser. Não mais. Eu não quero mais nada.» Já não sei se são minhas, se dela [tuas] as palavras. Cabum.
“Blow up”. Rebento[-me] por dentro. Se ainda sobrar algo. Devia também eu ser cinza. Sinto. Sinto tudo. Não quero. «Eu não quero mais nada.» Há alguma substância nesse tão [não-querer] sentir? Vazio, há-o. Não sei se cheio de vazio, se, de tão cheio, vazio. A cama está feita. Deito-me sobre ela mais uma vez. Esqueci-me dos jovens.
Que jovens? Não consigo escrever. Os destroços são tantos, que todo eu sou escombros de guerras inacabadas e imperfeições amaldiçoadas. Anormalidade. («Last night I dreamt that somebody loved me.») Sonhos. Só sonhos. Mas que sonhos? Quero (re)contar(-te) a minha vida mas tudo são movimentos descontínuos de rasto sem sentido. Nem tempo tenho para fechar os olhos e viajar. O medo é grande e eles já não cessam. Não receio os amanhãs; temo apenas que se tornem em hojes.
Por que razão insistes em permanecer nas minhas cinzas? Porque não vais com o vento, como eles todos? Porque não morres de mim? Preciso que abandones o meu corpo, para que eu possa também fazê-lo. Preciso não saber de cor as linhas do teu corpo, para que possa desfazer-me do meu. Preciso que vás, preciso esquecer[-te]. Não quero que vás, não quero perder[-te].

quinta-feira, 6 de setembro de 2007

tempo

Ainda me lembro do primeiro dia
Como uma semana que dura quase um ano
De graças afastada pelas memórias devastadas.

Passou mais de uma semana
Sem fim. O início. Nunca saberemos
que o amanhã é só mais um mês
Será o dia em que nascemos para morrer
Segundo a segundo
Esse tempo distante de promessas agora
Quantas horas já passaram?
As horas que recortaram
Uma semana, um dia, um mês, um segundo, uma hora. O tempo não existe.



quinta-feira, 24 de agosto de 2006

curtas metragens em Vila do Conde

..Junto ao "P" de Parque, eu vi uns sapatos brancos e uma camisola laranja despidos do seu corpo sem dono. Eram CURTAS as palavras e mais escassas as imagens repetidas em screens sem cor. Se uma câmara me prendesse a mão, faria mil sons para ela. Faria um só filme. 14?! Sim, de capacete e triciclo de 4 rodinhas, 14?! Sim!, já disse... Pois disseste! Mas sempre com os teus floreados característicos, a tua forma de embelezar. Bah! Imaginação tua! Sim, são 14, mas eles eram quatro. O que é um quatro? Um quatro?!, não sei mas com 3 tracinhos crias 1 e 3+1=4. 3+1 pode ser 7. É uma hipótese, desde que justifiques! 3 mulheres, 1 homem. Fazem coisas que eu não posso contar. Uma fecundação. Outra fecundação. Três fecundações. Puf!, mais três criancinhas. E se houver alguma que gere gémeos? São mais que 7, então. Mas podemos sempre ter... "um bébé morto em 10 caixotes do lixo!" Isto já é efeito Rumbero! Rum foleiro! Hm... e contrabaixos. Foleiros? Sim, são 14! Baixos e contrabaixos! pom! pom! Pum! Pum! Tu-tu-ru-tu-tu. Ma-nan-Ma-nan. Tá tá. Shiu! Eles esperam-nos na sala! "Está quase a começar." Ainda falta muito? Estamos quase a chegar. Vou ver um rabo. E tu? Dá, dá, com o cinto. De cabedal. Dominatrix! Rosas vermelhas e brancas e caras bonitas. bonito? Bah! Isso agora é vulgar! Chama-lhe outra coisa! Tu chamas-lhe bolinhas e o chão é de madeira. Olha o contrabaixo fresquinho!!! É grande e bonitinho (quer dizer, é às bolinhas!) A mochila é que é. Estão atrasados. Chegaram e rasgaram-me os pulsos! Não vejo! Não vejo! They've killed me. Cortaram-me os olhos e queimaram-nos! Na sua essência descobriram a música. DEATH! DEATH COMBO. eheh! . (Ponto parágrafo)
..Luzes vermelhas! Não o meu moulin rouge privado. Este tem outras caras. E sapatos diferentes. São mais. Contemos as pernas e dividamos por dois. Aqui elas não brilham como lá. Eles não pendem nem de orelhas nem de pescoços! Vai começar. Ornatos de fantasia. Perturbam-me! Morram. Barulhinhos estridentes como muitos homenzinhos vermelhos a cantar "os hinos de todos os países ao mesmo tempo." A música ensurdece - Ecoa... oa... oa! E sobe, trepa paredes... mas ainda não se trancou no estômago. Entretanto vêm mais pés e luzes vermelhas (outras apagam-se, são apagadas). Bate bate bate bate bate de mais. Podia bater de outra forma mas não bate. Os pés mexem-se descalços na arena de carpete cinza-rato. Corpos-robôs insaciáveis, música hipnotisante robotiza humanos, ordena o movimento e mata a ordem. Luzes incandescentes, quase assustadoras. Esquizofrenias de estranhos em estado de alzheimer agitando-se como quem sofre de Parkinson. Convulsões à Ian Curtis, mas hoje não há Joy Division. Não há? Só em reflexos da minha mente. Aqui, não há. Há? Talvez se procurares! Estou cansada de estar sentada e de levar encontrões. Levanta-te! As pernas relaxam, a música... Ai siinhe?! Je ne sais pas. A música ganha voz... mas eu não gosto. Pum pum pum. "His hediond heart!" Poum poum poum, panados com poum, panados com poum! As vozes melhoram, a batida mantém. Sons psicadélicos, custa respirar!, e o calor sufoca. Enjoos! A folha vai terminar. Bate bate bate. Termina a folha, as palavras renascem na voz de quem as sabe usar! Precisamos mesmo de uma folha? Já não sei, já não consigo pensar; acaba tu. (Acabaste)
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Uma dama
Outra dama

sábado, 19 de agosto de 2006

Chuva

Sobre a pele embaciada
Visão turbulenta, enevoada?
Cai como os acordes em nós
Dançando por entre a chuva rítmica
Um segundo ao céu
Em decibéis enternecidos de luzes
Um segundo tão escuro
Berrante na noite acordada
Um segundo morta
Cambaleando em rumo incerto de poesia
Sob(re) um manto gótico
Vampiresca negritude dos corpos vestidos
Despidos de fatalidades
Destinadas a corvos de asas vibrantes e berros sem sentido
Um segundo
Segredo
Gritado, encharcado
Enquanto as damas assistem a tudo o que revira
Uma vida